Tem gente que parece que, quando desceu à
Terra, veio com uma ordem expressa: - não aceite ser feliz. Rir é um ato
obsceno. Se você quer agir corretamente, reclame de tudo à sua volta. Caso você
veja que tem alguém se engraçando pela vida, dê logo um jeito de estancar essa
sangria pecaminosa chamada alegria.
Rir, atualmente, é até mesmo um ato político. No
Brasil, vivemos uma linha tênue entre princípios, um confronto maniqueísta que
antes era tácito, mas que as redes sociais tornaram bastante evidentes. Acho
que nos anestesiamos no riso – materializado pelos famigerados memes (piadas que viralizam online). E
nesse assunto eu chego no que eu chamo de coerência do riso. Há memes de todos
os lados, de todos os espectros ideológicos mas, por mais que a piada seja bem
elaborada, se se discorda da mentalidade do autor e do que ele representa, é
quase um crime contra si mesmo rir.
O riso já foi um passaporte para a morte, pelo
menos na ficção – se é que seja exclusivamente ficção - como genialmente
escancara o clássico “O nome da rosa”, de Umberto Eco (livro que originou filme
homônimo). Na obra, acontecia algo curioso quando algumas pessoas liam certos
livros. Sumariamente, os leitores morriam. O motivo era mais curioso do que o
fato. Os livros que faziam rir eram os letais. Todos que provocavam uma
gargalhada, tinham uma dose de veneno, como punição ao leitor que se deleitava
em sorrisos provocados pelas histórias.
Eu não tenho muita clareza para quê desci
neste mundo. Mas eu posso ter certeza de que um dos meus imperativos é rir.
Achar graça, sabe? Procurar a graça. Ir fundo no assunto para poder, cada dia a
mais, ter motivos para rir. Eu rio dos outros, com os outros, pelos outros,
mas, principalmente, por mim, e para além dos memes, meu jeito favorito de sorrir
é presencial, ouvindo o riso do outro.
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