Tuesday, August 13, 2013

Advérbios e aforismos - Dicionário incompleto, alternativo e circunstancial


Anacronicamente: Viver o passado é negligenciar o presente e sentenciar o futuro ao esmo.

Cordialmente: Despedida formal de emails que nada tem a ver com ‘de coração’.

Desesperadamente: A pior forma de desespero é perder-se dentro de si mesmo.

Eternamente: Crer na infinitude das coisas é atestado para a frustração.

Formalmente: Péssimo jeito de lidar com as ocasiões.

Gradualmente: O indicado para conseguir tudo na vida; grande inimigo dos afoitos.

Honestamente: Maneira árdua de ganhar dinheiro.

Igualitariamente: Palavra repetida por todos os revolucionários. 

Juntamente: A forma mais eficiente de produzir algo.

Literalmente: Uma palavra de acepção muito útil que caiu no gosto de todos e tem sido usada em momentos descabidos. 

Momentaneamente: Um período de tempo que pode ser muito longo ou muito breve. Depende do que está sendo feito.

Misteriosamente: Desista. Você será descoberto!

Nitidamente: Maneira que você nunca enxerga a situação pela qual está passando.

Perdidamente: Regra de qualquer paixão.

Politicamente: Segue certo sistema pré determinado ou, no senso comum, imbuído de trâmites corruptos.

Relativamente: A palavra mais útil e aplicável de todo o dicionário.

Sigilosamente: Forma como nunca procede uma ação que seja errada.
  
Tempestivamente: Como as coisas deveriam acontecer, mas quase nunca acontecem. 

Velozmente: A condição do tempo quando o dead-line está apertado.


Thursday, August 1, 2013

A supremacia do tempo






A inclemência do tempo é condição inequívoca que rege a vida de qualquer um. Não há como fugir dos impactos dele, sejam positivos ou negativos. Se a fase é ruim, o efeito psicológico é de que o tempo se arrasta como se fosse uma força sádica que quisesse prolongar nosso sofrer; quando a época é boa, a impressão que se tem é de que o tempo está só de passagem e que, logo, em um instante breve, ele levará consigo os tão bons ventos que o trouxeram. O tempo sabe ser o melhor remédio, mas a agonia de querer que ele passe, é o pior castigo.

Essa rasa reflexão basta para introduzir a resenha do livro ‘A visita cruel do tempo’, de Jennifer Egan, que tem como lastro o poder supremo que o tempo exerce sobre a vida do ser humano. Na contramão dessa subordinação que a autora parece sentir com relação ao tempo, ela o dilui dentro da narrativa, fazendo o leitor não se situar bem sobre qual o momento das cinco décadas circunscritas dentro da estória está lendo.  

Cada capítulo de ‘A visita cruel do tempo’ é narrado por um personagem diferente, que, ora se dirige ao leitor em primeira pessoa, ora em terceira. Todos os personagens carregam em si as agruras que o tempo inevitavelmente provoca na vida dos indivíduos. Paralela aos sentimentos subjetivos advindos com o passar dos anos, Egan também traz à tona a franca decadência de carreiras de produtores musicais arrebatadas pelos novos rumos que esse nicho de mercado veio ganhando devido à evolução dos meios digitais.

Nessa toada, a autora consegue um movimento de constante alocação da atenção do leitor, que transita do universo particular dos personagens e seus dramas psicológicos para o contexto mais geral que abarcam essas situações.

Vencedora do Pulitzer de 2011, Egan, com sua narrativa randômica, conseguiu expor em  livro um daqueles roteiros fílmicos de estórias paralelas; assim como David Cronenberg perfeitamente imprimiu em Crash (1996) e Alejandro González fez incrivelmente em Babel (2006) – para citar apenas dois dos muitos exemplos dessa estrutura narrativa.

Vale a pena ler e se perder nas elipses perfeitas que essa autora nos impõe a cada fim e início de capítulo. 

Para ouvir:  http://bit.ly/13qh05t