Wednesday, September 4, 2013

Os filmes imitam o maniqueísmo da vida


Outro dia, numa maratona de filmes a que me submeti sozinha, assisti a dois longas metragens que me fizeram pensar no quanto eram díspares por apresentar universos simbólicos tão opostos e no quanto esses mundos enunciavam sobre as nossas próprias realidades.

Enquanto em um – Terapia de Risco (EUA, 2005), direção de Steven Soderbergh – a realidade fílmica era constituída por um leque de personagens no qual todos apresentavam uma integridade moral e humana absolutamente permeável; no outro - O Fabuloso destino de Amelie Polain (França, 2001), direção de Jean-Pierre Jeunet - o universo simbólico era composto por personagens dotados de certa aura de ingenuidade que beira a mais inatingível (?) utopia da realidade.

Em Terapia de Risco, até quem parecia o mais nobre dos personagens, vivido por Jude Law, acaba a estória como um psiquiatra que utiliza das chancelas profissionais inerentes à sua função para se vingar de uma ex-paciente que tentou lhe prejudicar. No outro extremo, até o menos benevolente personagem de Amelie fecha a trama como alguém que tinha aprendido a ser (um pouco) melhor.

Em breve resumo, para nivelar o raciocínio aqui proposto, Terapia de Risco é um enredo que trata do opaco mercado dos remédios de tratamento para a cura da depressão. Assim sendo, desvela todas as teias de relações, mais referentes a poder e dinheiro do que a preocupações com a saúde, que esse tema envolve. Em consonância a tal contexto, os momentos cênicos que abarcam iluminação, cenários e movimentos de câmera instigam no espectador as mais sombrias e angustiantes sensações.

Por outro lado, Amelie, a personagem principal que nomeia o longa, tocada por uma epifania mais mundana do que transcendental - por mais paradoxal que essa definição acabe sendo -, compreende que deve mudar a realidade que a rodeia , criando situações que façam as circunstâncias da vida de seus conhecidos adquirirem contornos mais coloridos. A grande contradição de Amelie se forma devido à sua completa disposição para arquitetar acontecimentos que promovam melhorias na vida dos outros contraposta à absoluta parcimônia, que beira a inércia, quando o assunto é a busca de sua própria felicidade. Para mim, essa é a principal característica incongruente da personagem que dá o verdadeiro fôlego ao filme.

Alinhada a essa temática pueril, a textura do longa francês nos apresenta cenários coloridos em uma bela fotografia, cujas cenas têm um ritmo rápido e montagem dinâmica.

Como semelhança, as duas tramas têm a fidedignidade aos universos simbólicos que propõem representar. Em ambas, os personagens são redondos e bem desenhados, e, por isso mesmo, instigantes. A comparação desses filmes também se faz relevante porque os dois sublinham bem as evidentes diferenças que existem entre o cinema europeu e o norte americano.

Ative-me a ser rasa quanto à análise e exposição sinóptica dos filmes para dedicar mais à comparação desses que podem ser dois mundos aplicáveis à realidade de cada um de nós. Em qual universo você prefere fazer uma imersão? A vida é sempre o produto de suas escolhas. 

A minha indicação musical da vez é proposital: evidencia em qual universo simbólico eu decidiria viver: