Wednesday, August 13, 2014

Relativizar é preciso


Se eu pudesse dar um conselho a todos vocês, não seria ‘Use filtro solar’, pois não sou o Pedro Bial. Minha admoestação seria: não faça das palavras ‘nunca’ e ‘sempre’ vocábulos de uso para as suas falas. Esses dois advérbios, na maioria das vezes, fazem de nós mentirosos irremediáveis.

Pois o que achamos ser, pode não ter nada a ver com o que realmente é. O universo que nos habita só tem uma regra: todas as afirmativas dependem de ponto de vista, de contexto em que estão inseridas e da bagagem do opinante. As fronteiras que separam dois extremos são linhas extremamente tênues.

Tudo – e neste tudo abrange tudo e o todo mesmo - depende da interpretação que se faz, podendo esta variar de um extremo a outro numa facilidade incrível. As impressões sobre o mundo, as coisas, as situações, as pessoas, os conceitos etc, são pontos subjetivos, fincados num terreno vulnerável. Por isso, os contrastes e discrepâncias tão comuns na vida.  

Para ilustrar essa alternância de polos e caminhando para o âmbito do cinema,  a classificação de gêneros de filmes também é passível de leituras. Produções categorizadas como drama clássico, podem facilmente ser chamadas de dramalhões ou melodramas; o terror mais horripilante pode pecar pelo excesso e punir para o lado do burlesco, virando uma comédia de mau tom; e há quem diga que as mais agitadas obras de ação são entediantes. Assim como o chique se torna brega; o carinhoso se torna pegajoso; o perto também é longe; o irretocável, cheio de defeitos e lacunas; a eficiência vira o despreparo; e o fato, boato.

Tais divagações introduzem muito bem um paradoxo que se singulou em dois episódios dos últimos dias.

Apesar de entender o assunto como de suma delicadeza e sensibilidade, impossível não estranhar dois profissionais, que fizeram da comédia a via para ganhar dinheiro, cometerem suicídio - o pior ato contra si mesmo. Os falecimentos de Robin Willians e Fausto Fanti são, pessoalmente, lamentáveis. Cada um, ao seu talento e guardadas as proporções, constitui o meu universo de personagens referenciais.

Robin Willians me arrancou risadas não só em diversos papeis de comédia como também em suas entrevistas sempre descontraídas e bem humoradas. O ator também me inspirou e incitou reflexões em trabalhos como o psicólogo Sean McGuire, de Gênio Indomável e o professor entusiasta das ideologias libertárias, em ‘Sociedade dos Poetas Mortos’. E ainda mais paradoxal foi a interpretação de Robin Willians em ‘Patch Adams - o amor é contagioso’, encarnando um personagem que revigorou milhares de corações de espectadores, promovendo verdadeira aula de valorização da vida.

Os que nos fazem rir podem ter a tristeza dentro de si. Assim como a essência da figura do palhaço, que faz graça para esconder sob maquiagens e piadas as fragilidades que os habitam. Parece que estão fadados a um destino traçado por um alguém que preza pela ironia.

Em outra instância, mas ainda com relação aos dois casos supracitados, quanto mais se reverbera o existencialismo, confrontando-o com o contexto da realidade atual, maior chance de flertar com a depressão. Isso explica a doença, o incontestável mal do século, acometer grandes gênios da humanidade. Soa como incoerência, mas é a vida como ela é.

Nesse universo de correlações difusas, de certezas contestáveis, de desconstrução de verdades absolutas, o melhor é colocar um óculos que maximiza o lado otimista das coisas e seguir com um sorriso estampando o rosto; o riso alegra a alma e os entornos. O pranto só serve para chorar e gastar lágrimas.

Hino guia da realidade vigente para ouvir diariamente: Bola pra frente - Maria Rita

Vídeo do Palhaço Gozo, não foi porque ele morreu que assisti ao vídeo, sempre revisitava esses quadros no sense.