Se eu pudesse dar um conselho a todos vocês, não seria ‘Use filtro solar’, pois não sou o Pedro Bial. Minha admoestação seria: não faça das palavras ‘nunca’ e ‘sempre’ vocábulos de uso para as suas falas. Esses dois advérbios, na maioria das vezes, fazem de nós mentirosos irremediáveis.
Pois o que achamos ser, pode não ter nada a
ver com o que realmente é. O universo que nos habita só tem uma regra:
todas as afirmativas dependem de ponto de vista, de contexto em que estão
inseridas e da bagagem do opinante. As fronteiras que separam dois extremos são
linhas extremamente tênues.
Tudo – e neste tudo abrange tudo e o todo
mesmo - depende da interpretação que se faz, podendo esta variar de um extremo
a outro numa facilidade incrível. As impressões sobre o mundo, as coisas, as
situações, as pessoas, os conceitos etc, são pontos subjetivos, fincados num
terreno vulnerável. Por isso, os contrastes e discrepâncias tão comuns na vida.
Para ilustrar essa alternância de polos e caminhando
para o âmbito do cinema, a classificação de gêneros de filmes também é passível de leituras. Produções categorizadas como drama clássico, podem
facilmente ser chamadas de dramalhões ou melodramas; o terror mais horripilante
pode pecar pelo excesso e punir para o lado do burlesco, virando uma comédia de
mau tom; e há quem diga que as mais agitadas obras de ação são entediantes.
Assim como o chique se torna brega; o carinhoso se torna pegajoso; o perto
também é longe; o irretocável, cheio de defeitos e lacunas; a eficiência vira o
despreparo; e o fato, boato.
Tais divagações introduzem muito bem um
paradoxo que se singulou em dois episódios dos últimos dias.
Apesar de entender o assunto como de suma
delicadeza e sensibilidade, impossível não estranhar dois profissionais, que
fizeram da comédia a via para ganhar dinheiro, cometerem suicídio - o pior ato
contra si mesmo. Os falecimentos de Robin Willians e Fausto Fanti são, pessoalmente, lamentáveis. Cada um, ao seu talento e
guardadas as proporções, constitui o meu universo de personagens referenciais.
Robin Willians me arrancou risadas não só em
diversos papeis de comédia como também em suas entrevistas sempre descontraídas
e bem humoradas. O ator também me inspirou e incitou reflexões em trabalhos como
o psicólogo Sean McGuire, de Gênio
Indomável e o professor entusiasta das ideologias libertárias, em ‘Sociedade dos
Poetas Mortos’. E ainda mais paradoxal foi a interpretação de Robin Willians em
‘Patch Adams - o amor é contagioso’, encarnando um personagem que revigorou
milhares de corações de espectadores, promovendo verdadeira aula de valorização
da vida.
Os que nos
fazem rir podem ter a tristeza dentro de si. Assim como a essência da figura do
palhaço, que faz graça para esconder sob maquiagens e piadas as fragilidades que os
habitam. Parece que estão fadados a um destino traçado por um alguém que preza
pela ironia.
Em outra instância, mas ainda com relação aos dois casos supracitados, quanto mais se
reverbera o existencialismo, confrontando-o com o contexto da realidade atual, maior
chance de flertar com a depressão. Isso explica a doença, o incontestável mal do século, acometer grandes
gênios da humanidade. Soa como incoerência, mas é a vida como ela é.
Nesse universo
de correlações difusas, de certezas contestáveis, de desconstrução de verdades
absolutas, o melhor é colocar um óculos que maximiza o lado otimista das coisas
e seguir com um sorriso estampando o rosto; o riso alegra a alma e os entornos.
O pranto só serve para chorar e gastar lágrimas.
Hino guia da
realidade vigente para ouvir diariamente: Bola pra frente - Maria Rita
Vídeo do Palhaço Gozo,
não foi porque ele morreu que assisti ao vídeo, sempre revisitava esses quadros
no sense.