A Cia Luna Lunera emplaca mais um sucesso de público com a montagem da peça ‘Prazer’, que está em último fim de semana da temporada de apresentações no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Confesso
que a minha motivação de assistir à peça foi a palestra que vi, dias atrás,
ministrada por Odilon Esteves, um dos protagonistas de ‘Prazer’. Apesar de ter
sido discutido, no encontro com o ator, as particularidades do tema ‘a construção
de personagem’, ao fim, Odilon comunicou que estaria em cartaz na capital
mineira com esta montagem da Luna Lunera e projetei na peça a excelente
impressão que tive da palestra.
‘Prazer’
correspondeu às expectativas. Abordando um assunto que pode se tornar um
entediante-mais do mesmo-dos clichês, a peça usa de situações prosaicas e
mundanas para emergir o tema tão recorrente do valor às coisas simples da vida
sem a pretensão de parecer um medíocre auto-ajuda.
Com
a participação de quatro atores - dividem o palco com Odilon, Cláudio Dias,
Isabela Paes, Marcelo Souza – o espetáculo é um drama com pitadas cômicas. O
universo interno dos personagens está em cena, sendo expostas as suas
angústias, frustrações, desesperanças, porém, permeadas pelos alívios cômicos que pululam do palco e a capacidade de resiliência dos personagens, que enfretam
circunstâncias adversas naquele tempo espaço retratado.
No meu entendimento, o
cenário dialoga com a mensagem que o texto da peça quer transmitir. Tudo lá
está colocado de maneira que os atores consigam pegar com facilidade; tudo ao
alcance de suas mãos. Assim como a felicidade deve ser: tangível. Ouso inferir
também que a permanência dos personagens no palco durante toda a peça, sem sair de cena em nenhum instante sequer, seja para
também incutir nos espectadores a ideia de que não devemos sair de cena da
nossa própria existência.
A
peça também ganhou minha admiração ao inserir duas músicas de Los Hermanos. Em um primeiro
momento, o personagem Camilo cita versos da canção ‘Pois é’ .
Noutro, o personagem de Odilon, em momento que mescla catarse e extravasamento,
dança ao som de ‘Quem sabe’ .
Completando as intertextualidades com obras que aprecio em alto grau, li que a
montagem foi inspirada em trecho do livro “Uma aprendizagem ou o Livro dos
Prazeres”, um dos meus favoritos de Clarice Lispector. Uma combinação excelente e bem sucedida.
Não
poderia deixar de citar também a encantadora declaração de amor semiótica que
Camilo faz para a personagem de Isabela Paes, utilizando de objetos que traziam
significantes importantes à felicidade dos dois como casal para denotar o amor que dedica à ela.
Por
fim, impossível não abrir um sorriso sincero na última cena da peça em que os quatro tomam banho de mangueira e
dançam ao som de ‘Viva La vida’, de Cold Play. Escolha óbvia, porém, acertada.
‘Prazer’
é um simulacro de um recorte da vida real, em momentos que vão da decadência à ascensão, que inspira:
é combustível poético e reflexivo.