Wednesday, August 31, 2016

É de quatro folhas?


Vamos pensar sobre um substantivo abstrato que talvez só não seja mais almejado do que outro de igual categoria gramática, a felicidade, mas que certamente a precede ou a causa: a sorte.

O tema é atemporal e universal, porém, ganha um ingrediente palpável quando se coloca no bojo das reflexões a findada Olimpíada Rio 2016 e aguardada Paralimpíada. Ali é um ótimo universo para se detectar quando essa força oculta mágica agiu. Sem a pretensão de tirar o mérito de nenhum dos atletas, mas não é temerário afirmar que cada qual que pendurou alguma medalha no pescoço deve parte do seu agradecimento à ação invisível da sorte.

Se o mérito é a receita, a sorte é a cereja do bolo. Ou a sorte, em algumas circunstâncias, pode ser o ingrediente principal da massa. Depende de caso a caso.

Em seu célebre e perene livro ‘O Príncipe’, Maquiavel imputa ao conceito o real peso que ele merece, elencando-o, ladeado ou intercalado pela virtude, como preceito indissociável ao êxito de atuação de um líder.

Woody Allen também labora muito bem o tema em Match Point (2005), ótima obra que faz intertextualidade com outra excelente – o livro Crime e Castigo (1866), de Dostoiévski -, quando seu protagonista Chris Wilton tem seu desfecho fadado ao poder da sorte.  

Seria a sorte um advento do vento, vindo tal como ele, sem aviso prévio e sem dizer quanto tempo fica, ou ela pode ser atraída? Poderíamos preparar terreno para que uma sorte se instalasse? A sorte é furtiva ou criada? Pegar um pênalti é sorte ou êxito?

Como tudo na vida, coloco no horizonte infinito da relativização. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. É sempre uma combinação de fatores. Há como preparar circunstâncias suscetíveis à ação da sorte, de forma bem racional, como também, para os mais ‘mentalistas energéticos’, instaurar uma atmosfera de otimismo no entorno do agir e esperar o resultado fatídico da sorte acontecer. Como num pênalti.  

O que é loteria na vida? Talvez, nem a própria loteria. Entender a sorte é como buscar explicação no que parece acaso. Você pode até dar a sorte de acertar.  


Nota da autora: ou sua sorte vem num abraço tímido e míope no dia do seu aniversário: Minha sorte simbolizada.

Wednesday, May 11, 2016

Falta um espaço no meu tempo


Estou há dias tentando escrever aqui sobre a falta de tempo que acomete muita gente nos dias de hoje. Mas não tenho tido tempo. Sintomático, não?

Sinto falta até de pensar nos planos que eu nunca faria. Mas pelo eu menos eu tinha tempo para pensar nessas impossibilidades.  Agora, quando paro, não há energia nem para pensar nas mentiras que eu queria acreditar. A vida anda real demais para mim.

Isso para não falar das tentativas frustradas de me informar sobre a atual conjuntura política brasileira. Tem sido bastante impossível encaixar tamanho volume de conteúdos mutáveis numa vida que ainda não habita um planeta em que um dia tenha 100 horas. Nossa situação política muda mais do que a opinião de um geminiano.  

Na correria do dia a dia só tenho dois momentos em que posso chamar de meus: o metrô e o banho. De resto, sou do meu trabalho, dos meus estudos, do meu futebol, das atividades extras dos meus estudos, dos meus amigos, da minha família, dos desmaios na cama quando só dá tempo de ligar o Netflix, mas nunca de usá-lo de verdade para o fim que o fez vir salvar nosso mundo. Portanto nunca mais fui minha; de mim mesma.

Com seu papel inerente, a arte vem sempre absorver os sinais da realidade para transformá-la em obras manifestas, que nascem com o incansável propósito de provocar à reflexão quem consome cultura. São várias as peças, filmes, livros e músicas que nos pedem um tempo para parar e refletir sobre como o passado e o futuro se aliam para nos roubar do presente.

O urgente da realidade não se encontra com a prioridade dos meus sonhos.
  
Não pensem, caros leitores, que esse texto é um reclame de alguém que rabuja estar sem tempo para ser feliz. O negócio é que eu queria mais tempo. Para caber toda essa felicidade.


Inclusive, digitei esse texto no metrô. Mas a ideia foi no banho.

Lista de obras relacionadas ao tempo:
Peça de teatro: Urgente – Luna Lunera
Livro: O ócio criativo – Domenico De Mais
Filme: Feitiço do tempo - Harold Ramis




Wednesday, March 23, 2016

Loteria

Invariavelmente, optar por algo significa desistir de outro (s). Viver é perde e ganha. Ou ganha e perde. Ou ganha. Ou perde. Isso aí já depende da sua tendência filosófica.

Comecemos pelo que tem regido nossos ânimos nos últimos dias: a atual (embaraçosa) conjuntura política brasileira. Vejo gente perdendo amigos e ganhando princípios. Mas também vejo gente perdendo admiradores e ganhando inimigos. Vejo gente que não ganha nem perde, porque está perdido.

Vejo gente perdendo dinheiro em viagens e ganhando registros fotográficos e mentais, mas, principalmente, histórias.

Pessoas que perdem calorias e minerais e ganham vigor físico e endorfina (bom humor).
Perdem a beleza das unhas dos pés e ganham os jogos de futebol.
Eu já perdi a hora e ganhei atraso.
Já perdi limites e ganhei sermão. Ou prejuízos morais e financeiros. Ou os dois.

Pensadores perdem ideias e ganham concretizações.
Pessoas perdem os amores de sua vida e ganham amor próprio.

Vejo gente perdendo vidas em atentados terroristas ou em travessias em busca de refúgio. Mas nessa situação nada se ganha de positivo, só em estatísticas, dores e medos.

Isso para não falar do impasse: ora estamos perdendo nosso tempo para ganhar dinheiro, ora perdendo dinheiro para nos sobrar tempo qualitativo.

No exercício do existir somos, simultaneamente e instavelmente, vencedores e vencidos.


Perde-se – antes - dentro de si mesmo para – depois - ganhar o mundo.

Friday, February 12, 2016

Eis a vida: a questão

Ter todas as certezas é sinal de segurança ou de covardia em se questionar e repensar sua realidade?
Se propor a fazer novas escolhas a todo momento é sinal de vulnerabilidade ou de reverberação constante?
Eu tenho essa certeza eterna hoje, amanhã, não sei.
Qual o conteúdo de suas ponderações?
Sua conduta ao tomar decisões é baseada na razoabilidade da lógica ou do empirismo?
Você leva em consideração o histórico ou o imediato?
Você é empático ou individualista?
Você quer que o impacto aconteça a curto ou a longo prazo?
Qual é o momento certo de apertar o confirma ou o corrige?

São perguntas retóricas, mas você, leitor, pode tentar responder uma a uma. Desafio-o a conseguir.

Há dias em que você só quer (se) ler. Não somente ler o que você já registrou em palavras sobre si mesmo e o que pensa sobre tudo que está aí. Mas você deseja ler o que está dentro de você e que parece como um enigma da esfinge. Nebuloso. Difícil de ser interpretado. São muitos signos e poucos significados. São muitas teorias e poucas conclusões. São hipóteses que não se fecham como realidades. São hipóteses que retumbam como um som ensurdecedor e pouco nítido.

William Shakespeare, cujo quarto centenário de morte é celebrado em 2016, já teria ditado as tendências para a existência de gerações e gerações, espalhadas pelos cinco continentes, onde, nos quais e em todos, nenhum humano passa incólume pela veemência das dúvidas que a vida nos impõe sob todos âmbitos. “Ser ou não ser, eis a questão”, citação do autor que caiu no senso comum, mas que continua com sua validade filosófica - dos dilemas mais profundos aos problemas mais corriqueiros.

Acordamos sem saber qual roupa vestir e até essa escolha reflete nossa introspecção do dia. Sentamos na nossa mesa de trabalho e perguntamos se era isso mesmo o que queríamos ser quando fizemos todos aqueles cursos. É hora do almoço e os restaurantes são abundantes. Decidimos por tal prato e pensamos se estamos fazendo o certo com nossa saúde. Estamos em férias, precisamos viajar para algum lugar. Mas para onde? Reencontramos um caso antigo que ganha novos contornos e conhecemos um parceiro novo, ficamos em dúvida em qual vale a pena investir. Falando em investir, e a bolsa de valores?

Toda escolha é uma perda. E pensamos no que não decidimos. Nas opções preteridas. Teria sido melhor? O fantasma do ‘e se’...

Somos produtos das nossas escolhas ou do que nos escolhe.

Tantas perguntas num artigo de uma indecisa nata são propositais. É a forma em texto do conteúdo da mente. Poesia concreta abstrata. É como uma mosaico da minha cabeça. E da sua?

Já peço desculpas antecipadamente por esse artigo sem articulação e sem desfecho, talvez uma metáfora do que a vida nos propõe.