Friday, September 22, 2017

Doses homeopáticas, resultados em grandes proporções



Já li que a felicidade é diferente da alegria. A felicidade é um compilado de coisas, que envolve um combo de ganhos, mas perdas também. É um sentimento maduro. Por isso, quando me perguntam: “tá feliz?”, eu respondo: “sempre!” Não que eu viva em êxtase ou que não tenha perdido muito neste percurso. A cada notícia que leio, a cada jornal que assisto, a cada conversa que escuto no ônibus ou no metrô, ou em algumas situações que eu mesma vivo, tenho motivos para ver o quanto o mundo anda perdendo, e, com isso, eu também.

Seriam as notícias a metalinguagem da vida? Seria a vida pensando – agindo - o ato de existir, do ponto de vista prático e não do teórico? Como a filosofia, que é uma instância diferente de metalinguagem da vida, no campo da reverberação de hipóteses, ou seja, da teoria. A verdade é que o fato impulsiona teorizarmos o viver e fabricar fatos futuros diferentes para nós mesmos. 

E se a realidade fosse nossa ficção e vice-versa? Nosso noticiário parece escrito por roteiristas. Só para pinçar um exemplo atual e polêmico: um juiz voltou à tona o absurdo do tratamento da homossexualidade como doença. Se me falassem que era uma sinopse de um filme de ficção científica, eu acreditaria, de pronto. Mesmo que achasse um roteiro muito do viajadão.

Estão acompanhando, gente? Vamos juntos, porque estou com medo de me perder também.

Neste contexto, podemos fabricar pílulas de alegria instantânea para nos medicar contra o mal estar que nos está posto. O que te faz sorrir? O que te causa sensação de leveza? O que te leva ao êxtase? O que te gratifica? Vai de cada um. 

Pode ser fazer uma caminhada observando a paisagem. Ou entregar um trabalho bem feito pro chefe. Ou comer várias fatias do seu sabor de pizza favorito. Ou jogar bola. Vocês que estão me lendo jogam bola? Senão, indico uma primeira vez que seja. É uma das coisas mais gostosas dessa vida: a endorfina. Ou encontrar seus amigos de infância e relembrar o tempo juntos. Ou escutar música bem alta no transporte público ou caminhando. (quando alguém me vir nesta situação, nem queira saber o que tá tocando). Ou sair com aquela turma que tem ‘liga’ e se diverte em qualquer programa. Ou cozinhar pros seus pais. Ou mesmo aquele respiro no ambiente de trabalho em que falam sobre amenidades. Ou ajudar alguém sem interesse. Ou rir até sair lágrimas e doer a barriga. Ou ficar fazendo nada ao lado da pessoa que escolheu para passar a vida com você. 

Recomenda-se, no mínimo, da inserção na sua rotina diária de uma pílula diária de alegria - à sua escolha. Não precisa aproveitar com moderação. São doses homeopáticas que, somadas, causam um efeito duradouro. 

E para você que chegou até aqui, me deu uma pílula de alegria. É gratificante ser lida. 

P.S.: Essa é mais uma ideia dentro do metrô. Acho que posso pensar num novo local de processo criativo. 

·         Metalinguagem: A metalinguagem é uma forma linguística na qual o código fala de si mesmo. Essa prática pode ocorrer em diversos meios artísticos.

Thursday, May 11, 2017

É melhor ser real ou ter razão?



Não é o tempo que nos muda. Mas os fatos que os perpetram. A maturidade não vem com o tempo, ela vem com o que nos acontece durante esse tempo. Não é o tempo que nos faz gostar ou desgostar de alguém. Mas as ações deste para conosco. Não é o tempo que cura, mas o que nos acontece neste tempo, para ocupar e ajudar a superar.

Todas essas constatações, óbvias ou não, ensejam a um raciocínio correlato da importância do fato, da verdade e do acontecimento na vivência humana.

Do que nossa memória é constituída? Dos fatos escritos no tempo. Das verdades que passaram em nossas vidas. Embora também, cada memória de uma pessoa seja uma ficção individual elaborada por si mesmo. É a interpretação de cada um sobre as verdades que se passaram. Mas é sempre sobre verdades.

Ilustra bem essa relação o atemporal filme “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, onde os personagens buscam um tratamento que permite uma borracha mental para o que se deseja esquecer. Às vezes, os fatos pregressos e as verdades passadas incomodam. Por serem verdades que aconteceram.

Em tempos de pós-verdade, essa reflexão vem a calhar para sublinhar a gravidade dessa tendência de deturpação da realidade. Não querem ter verdade. Querem ter razão. Quando devíamos querer ser felizes. Na verdade da razão.

A pós-verdade parece uma conspiração cósmica dos mimados que, não tendo razão, pretende fabricá-la a seu bel prazer. Não interessam os fatos, mas o que corrobore no que querem acreditar.

Quando não confiamos na nossa memória, o comum é recorrer aos registros. E quando não se pode confiar nos registros?

A pós verdade é, talvez, um desbotamento da realidade, que se esgaça até que os fatos fiquem diluídos numa interseção fluida do que se é ou do que se quer que seja.
  
·         Pós-verdade é um neologismo que descreve a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais.

Wednesday, February 22, 2017

Uma dose, por favor




Como uma brisa leve que revigora com um quê de Boas Novas, vem invisível, mas nunca imperceptível.  Atenção! Este texto não tem a pretensão de implantar a ditadura da felicidade, mas de propor soluções mentais para tempos difíceis.

Há quem diga que apenas os impensantes ainda levam como mantra o otimismo. No mesmo sentido, estudos sinalizam que a depressão acomete os menos alienados ou, como constam nas matérias jornalísticas sobre o tema, os mais ‘inteligentes’. 

O otimismo é uma questão de interpretação. De carga de significância que se dá a uma situação passada, presente ou futura. É uma versão adotada para a leitura do que está proposto.
 

A já batida - porém não menos valiosa - pergunta cuja resposta desvela a tendência filosófica de cada um: como você enxerga o copo preenchido com metade de líquido? Meio cheio ou meio vazio?, também abre margem para outros raciocínios: a apatia é produto da resignação ou do comodismo? É um pecado às dores do mundo manter o bom humor e a alma leve nas conjunturas mais adversas? É ingenuidade ser flexível diante da intransigência?  
  
“O pranto só serve para chorar” ou, parafraseando, o pessimismo só age no ruir da circunstância. O pessimismo, além de não ser uma ferramenta útil de pensamento, é uma sensação de tormento perene em quem acomete. É como um impermeabilizante que impede as boas energias de penetrarem. É aquele comentário inoportuno tramando que as coisas dêem erradas, nem que seja para se ter razão. É aquele descolorir da vida. É a água do chopp. É a areia do olho. É o amarelar o sorriso do (s) outro (s). É a urucubaca. Como uma praga que tem sua razão de existir, tem quem transmita, contamina e mata - nem que sejam as esperanças.  

Além do mais, é um distúrbio que desencadeia outros maiores e mais sérios, de difícil tratamento. O pessimismo é um mal em si mesmo, a si mesmo e respinga no próximo, quanto mais próximo ele esteja.

Talvez esse apego ao impalpável otimismo se justifique por uma ciência, não muito famigerada, mas encantadora, denominada patafísica, cujo conceito também pode ser traduzido no seguinte: o absurdo do existir precisa de alguma explicação ou sensação que o justifique. Por mais paradoxal que isso seja. Ou absurdo.

No fim, não há poder resoluto que emane do otimismo. Não soluciona situações, mas oportuniza que você passe pelo pior com vistas no melhor, que pode vir ou não. Mas é bom saber que o ideal existe. 

Tal como a função da utopia, cujo real significado está intimamente ligado ao inatingível, porém, quando a temos em nosso horizonte, revigora o fôlego para seguir. O que vale é o caminho, não o destino. Nos vemos lá.