Estou há dias tentando escrever aqui sobre a falta
de tempo que acomete muita gente nos dias de hoje. Mas não tenho tido tempo.
Sintomático, não?
Sinto falta até de pensar nos planos que eu
nunca faria. Mas pelo eu menos eu tinha tempo para pensar nessas
impossibilidades. Agora, quando paro,
não há energia nem para pensar nas mentiras que eu queria acreditar. A vida
anda real demais para mim.
Isso para não falar das tentativas frustradas
de me informar sobre a atual conjuntura política brasileira. Tem sido bastante
impossível encaixar tamanho volume de conteúdos mutáveis numa vida que ainda
não habita um planeta em que um dia tenha 100 horas. Nossa situação política
muda mais do que a opinião de um geminiano.
Na correria do dia a dia só tenho dois
momentos em que posso chamar de meus: o metrô e o banho. De resto, sou do meu
trabalho, dos meus estudos, do meu futebol, das atividades extras dos meus
estudos, dos meus amigos, da minha família, dos desmaios na cama quando só dá
tempo de ligar o Netflix, mas nunca de usá-lo de verdade para o fim que o fez
vir salvar nosso mundo. Portanto nunca mais fui minha; de mim mesma.
Com seu papel inerente, a arte vem sempre
absorver os sinais da realidade para transformá-la em obras manifestas, que
nascem com o incansável propósito de provocar à reflexão quem consome cultura. São
várias as peças, filmes, livros e músicas que nos pedem um tempo para parar
e refletir sobre como o passado e o futuro se aliam para nos roubar do
presente.
O urgente da realidade não se encontra com a
prioridade dos meus sonhos.
Não pensem, caros leitores, que esse texto é
um reclame de alguém que rabuja estar sem tempo para ser feliz. O negócio é que
eu queria mais tempo. Para caber toda essa felicidade.
Inclusive, digitei esse texto no metrô. Mas a
ideia foi no banho.
Lista de obras relacionadas ao tempo:
Peça de teatro: Urgente – Luna Lunera
Livro: O ócio criativo – Domenico De Mais
Filme: Feitiço do tempo - Harold Ramis