Thursday, May 11, 2017

É melhor ser real ou ter razão?



Não é o tempo que nos muda. Mas os fatos que os perpetram. A maturidade não vem com o tempo, ela vem com o que nos acontece durante esse tempo. Não é o tempo que nos faz gostar ou desgostar de alguém. Mas as ações deste para conosco. Não é o tempo que cura, mas o que nos acontece neste tempo, para ocupar e ajudar a superar.

Todas essas constatações, óbvias ou não, ensejam a um raciocínio correlato da importância do fato, da verdade e do acontecimento na vivência humana.

Do que nossa memória é constituída? Dos fatos escritos no tempo. Das verdades que passaram em nossas vidas. Embora também, cada memória de uma pessoa seja uma ficção individual elaborada por si mesmo. É a interpretação de cada um sobre as verdades que se passaram. Mas é sempre sobre verdades.

Ilustra bem essa relação o atemporal filme “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, onde os personagens buscam um tratamento que permite uma borracha mental para o que se deseja esquecer. Às vezes, os fatos pregressos e as verdades passadas incomodam. Por serem verdades que aconteceram.

Em tempos de pós-verdade, essa reflexão vem a calhar para sublinhar a gravidade dessa tendência de deturpação da realidade. Não querem ter verdade. Querem ter razão. Quando devíamos querer ser felizes. Na verdade da razão.

A pós-verdade parece uma conspiração cósmica dos mimados que, não tendo razão, pretende fabricá-la a seu bel prazer. Não interessam os fatos, mas o que corrobore no que querem acreditar.

Quando não confiamos na nossa memória, o comum é recorrer aos registros. E quando não se pode confiar nos registros?

A pós verdade é, talvez, um desbotamento da realidade, que se esgaça até que os fatos fiquem diluídos numa interseção fluida do que se é ou do que se quer que seja.
  
·         Pós-verdade é um neologismo que descreve a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais.