Não é o tempo que nos muda. Mas os fatos que
os perpetram. A maturidade não vem com o tempo, ela vem com o que nos acontece durante esse tempo. Não é o tempo que
nos faz gostar ou desgostar de alguém. Mas as ações deste para conosco. Não é o
tempo que cura, mas o que nos acontece neste tempo, para ocupar e ajudar a superar.
Todas essas constatações, óbvias ou não, ensejam
a um raciocínio correlato da importância do fato, da verdade e do acontecimento
na vivência humana.
Do que nossa memória é constituída? Dos
fatos escritos no tempo. Das verdades que passaram em nossas vidas. Embora
também, cada memória de uma pessoa seja uma ficção individual elaborada por si
mesmo. É a interpretação de cada um sobre as verdades que se passaram. Mas é sempre sobre verdades.
Ilustra bem essa relação o atemporal filme “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”,
onde os personagens buscam um tratamento que permite uma borracha mental para o
que se deseja esquecer. Às vezes, os fatos pregressos e as verdades passadas
incomodam. Por serem verdades que
aconteceram.
Em tempos de pós-verdade, essa reflexão vem
a calhar para sublinhar a gravidade dessa tendência de deturpação da realidade.
Não querem ter verdade. Querem ter razão. Quando devíamos querer ser felizes. Na
verdade da razão.
A pós-verdade parece uma conspiração cósmica
dos mimados que, não tendo razão, pretende fabricá-la a seu bel prazer. Não
interessam os fatos, mas o que corrobore no que querem acreditar.
Quando não confiamos na nossa memória, o
comum é recorrer aos registros. E quando não se pode confiar nos registros?
A pós verdade é, talvez, um desbotamento da
realidade, que se esgaça até que os fatos fiquem diluídos numa interseção
fluida do que se é ou do que se quer que seja.
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Pós-verdade é um neologismo que descreve a
situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos
objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais.