A vida (re) começa o tempo todo. E termina. E começa.
E termina.
O exercício do viver é cíclico. Se por um
lado, sofremos com o fim, no outro extremo, nos alegramos com o começo. Mas o vice-versa
também vale. Podemos nos alegrar – aliviar – com o término, bem como nos
entristecer com um início – de algo indesejado. Ou podemos, ainda, começar
odiando o término e acabar amando tanto o novo começo que o fim se torna
alegre, numa reinterpretação metafísica da própria existência.
As palavras e conceitos Começo e Fim têm seus significados
macro e micro. Geral e particular. Genérico e específico. Aplicam-se, em amplo
sentido, no nascer e morrer do corpo, mas também são vivenciados durante toda a
vida. A cada fase individual de todo ser humano.
Fim e Começo são intrínsecos ao ato de existir.
Nas minúcias, miudezas e nuances e nos grandes atos de eloquência da vida. O
movimento da Terra em torno de si mesma já crava um começo e um fim diários.
Na condição de perene insatisfação – do querer
mais, melhor e diferente – demasiadamente inerente ao ser humano, começa-se a
todo momento: uma dieta, um esporte, um curso, um hobby, uma amizade, um
relacionamento, uma aproximação, um projeto, uma construção (concreta ou
abstrata), um encontro, um livro, um filme, uma série, uma religião, uma
filosofia, um estilo, um contrato. A palavra começo agrega em si várias outras
como: desafio, novidade, oportunidade.
O fim já vem com uma carga diferente. Mais
pesada, sofrida, penosa. Mas não tem que ser assim. É bom se lembrar que só veio um começo porque o fim o viabilizou,
na mesma lógica de toda escolha é uma
perda. E nada disso tem que ser ruim. Sofremos – em grandes e pequenas
proporções – a vida toda porque depois disso, vamos ter o que comemorar, nem
que seja o aprendizado com o fim ou começo de algo.
Eu mesma tenho dificuldades com encerramentos –
dos mais fugazes aos que causam maior impacto. Dias atrás sofri porque estava
apegada a uma série da Netflix e assisti todos os capítulos. Noutra visão,
ficaríamos incompletas (eu e a série) se não concluísse os episódios. Também
fico chateada no último dia das minhas férias, mas elas só existem porque tenho
um trabalho a começar todo novo dia. Durante toda minha infância, sofri quando ia
mudar de cidade. Mas fui feliz nos novos lugares onde fui. Fico incomodada
quando um campeonato acaba, no último dia de aula de um curso, no último
dia de serviço num emprego.
E, em última proporção, entristeço-me
profundamente com o fim da vida de alguém muito importante, mas sei também me
alegrar pelo alívio do sofrimento e, com minhas crenças, ficar feliz com o novo
começo depois da morte.
Também tem os fins ansiados. Geralmente são os
que vêm travestidos de conclusão. É ótimo finalizar algo que estava em curso:
uma monografia, um trabalho, uma fase, um jogo, uma tarefa, um prato. Mas até
mesmo esses términos deixam um vazio, um espaço no tempo.
Uma das minhas artistas nacionais favoritas, Fernanda
Torres, dedicou um livro inteirinho ao título e temática dessa curta palavra:
Fim. Como lhe é peculiar, ali, esse tema espinhoso, e que às vezes preferimos
deixar debaixo do tapete, é tratado com muito bom humor e com viés inusitado.
Vale a leitura.
Naturalizemos o fim. Ele vai existir. Vai
permear constantemente nossas vidas. Não porque viemos sofrer, mas porque
viemos aprender, evoluir e prosseguir com progresso.
E esse texto acabou, para os que chegaram até
aqui pode ser um fim penoso (se não gostaram) ou gratificante (se curtiram). Ou
ainda, se achou bom e terminou, pode achar ruim porque acabou, neste caso,
alegre-se, vai ter muito mais. Tudo é interpretação e reação.