Defenestrando males tácitos
Numa época em que boa parte da
população brasileira - não somente parcela de cidadãos que faz panelaço em suas
varandas gourmet -, se reúnem em grandes mobilizações sociais
(?) a fim de pedir o impeachment da presidente Dilma Roussef, certos de que
estarão banindo do mais alto grau administrativo da república brasileira um mal
maior, vou me dedicar a dissertar sobre como é possível promover uma melhoria
inimaginável na vida, apenas se livrando de miudezas imbuídas de um prejuízo
velado a você mesmo.
Abrindo aqui parênteses para deixar
claro que não tenho menor intuito de me posicionar quanto a estar do lado dos
que foram às ruas, dos que criticaram os que foram às ruas ou ainda dos que
estão em outro caminho diferente dos dois grupos.
Retomando... não é preciso, para a tão
sonhada leveza do ser (tão sonhada que intitulou um daqueles Best-sellers de
auto ajuda) de que algo de grandes proporções nos acometa para que, como
consequência inevitável, nossa vida se reoriente.
Muitas vezes, não é necessário que
reinventemos a roda. Para que conquistemos a tal paz interior, que, a cada vez
mais tem estado no cerne de anseios da sociedade contemporânea, basta pensar
com razoabilidade.
A panaceia do mundo, salvas as devidas
proporções, reside no mero auto conhecimento acompanhado de um poder de
análise.
Somos capazes de apontar diversos males
do universo, aqueles que atingem multidões e provocam mazelas em todo um povo e
uma época. Mas talvez, se solicitados, não sabemos sinalizar os nossos pequenos
vícios que geram moléstias individuais e até coletivas. A nossa capacidade de
nos fazer mal é muito maior do que os danos que um terceiro pode nos causar.
Essa potencialidade negativa nos passa despercebida. Mais perigosa, pois
tácita.
Portanto, DEFENESTRE!
Elimine o que não é produtivo,
engraçado, pacificador, tranquilizante, provocador de risos, edificante,
elucidativo. Jogue para longe o que te induz a pensar que és menos do que
realmente é.
Como aquela obsessão que você tem de
postar selfies, quase implorando por curtidas; não é isso que vai
te fazer se sentir querido. Ou quando você publica todos os momentos que você
julga imperdíveis aos seus contatos, acompanhados de hashtags mirabolantes
(infeliz mecanismo de comunicação das redes sociais que teve sua razão
totalmente diluída nas inutilidades dos usuários); isso é o que você demonstra
virtualmente, mas não é o verdadeiro panorama de sua vida.
Ou quando você insiste em sair com
aquela turma que te faz se sentir inferior, sob qualquer que seja aspecto; não
são eles os seus amigos que entendem o real conceito de amizade. Ou no
trabalho, quando você acredita nos que maximizam seus erros e tornam seus
feitos como coisas pífias; não são esses o que vão te dar um feed back certeiro
de sua vida profissional.
Ou quando você se anula para poder
agradar seus familiares; não é essa a aprovação que você precisa. Ou quando
você projeta seus sentimentos e todos seus esforços em tentar fazer alguém
feliz numa pessoa que mal sabe quem é você e que te coloca em órbita, fora de
todos os círculos de sua vida; essa não é, nem de longe, a pessoa a quem você
deve entregar o melhor que guardou de si.
Auto sabotagem. É isso. Ceder a todos
essas imposições do imaginário coletivo – e de seu próprio – como as situações
supracitadas. É como você boicotar a si mesmo. Não é difícil entrar nesse
redemoinho pernicioso. Também não é fácil compreender que você está nessa
situação e, menos ainda, se livrar desse imbróglio silencioso.
Nessa mesma toada, vivia Holden
Caulfield, o protagonista de ‘O apanhador do campo de centeio’ (J. D. Salinger), um
adolescente norte americano, aborrecido e rebelde pela causa obrigatória de ser
assim, naquele contexto em que vivia – a discordância era característica
intrínseca ao jovem da época. O descontentamento que sentia em relação à
sua vida, principalmente em relação aos pais, nada mais era do que a sua mania
vazia de contestar por contestar.
Na mesma armadilha secreta caiu Jerry
Falk, personagem vivido por Jason Biggs, no longa metragem ‘Igual a tudo na
vida’, de Woody Allen. O jovem se via preso em duas amarras que tolhiam todo o
fluxo de sua trajetória: não conseguia se desapaixonar da temperamental e
leviana Amanda (Christina Ricci), nem largar o empresário bufão Harvey (Danny
DeVito) que cuidava da sua carreira. O paradoxo era que, temendo sofrer de amor
e ter fracasso na vida profissional, Jerry vivia nesse emaranhado cíclico:
sofrendo de amor e sendo um fracasso, sem ter consciência disso.
Portanto, o primeiro dos males a ser
eliminado é o tácito.