Thursday, August 1, 2013

A supremacia do tempo






A inclemência do tempo é condição inequívoca que rege a vida de qualquer um. Não há como fugir dos impactos dele, sejam positivos ou negativos. Se a fase é ruim, o efeito psicológico é de que o tempo se arrasta como se fosse uma força sádica que quisesse prolongar nosso sofrer; quando a época é boa, a impressão que se tem é de que o tempo está só de passagem e que, logo, em um instante breve, ele levará consigo os tão bons ventos que o trouxeram. O tempo sabe ser o melhor remédio, mas a agonia de querer que ele passe, é o pior castigo.

Essa rasa reflexão basta para introduzir a resenha do livro ‘A visita cruel do tempo’, de Jennifer Egan, que tem como lastro o poder supremo que o tempo exerce sobre a vida do ser humano. Na contramão dessa subordinação que a autora parece sentir com relação ao tempo, ela o dilui dentro da narrativa, fazendo o leitor não se situar bem sobre qual o momento das cinco décadas circunscritas dentro da estória está lendo.  

Cada capítulo de ‘A visita cruel do tempo’ é narrado por um personagem diferente, que, ora se dirige ao leitor em primeira pessoa, ora em terceira. Todos os personagens carregam em si as agruras que o tempo inevitavelmente provoca na vida dos indivíduos. Paralela aos sentimentos subjetivos advindos com o passar dos anos, Egan também traz à tona a franca decadência de carreiras de produtores musicais arrebatadas pelos novos rumos que esse nicho de mercado veio ganhando devido à evolução dos meios digitais.

Nessa toada, a autora consegue um movimento de constante alocação da atenção do leitor, que transita do universo particular dos personagens e seus dramas psicológicos para o contexto mais geral que abarcam essas situações.

Vencedora do Pulitzer de 2011, Egan, com sua narrativa randômica, conseguiu expor em  livro um daqueles roteiros fílmicos de estórias paralelas; assim como David Cronenberg perfeitamente imprimiu em Crash (1996) e Alejandro González fez incrivelmente em Babel (2006) – para citar apenas dois dos muitos exemplos dessa estrutura narrativa.

Vale a pena ler e se perder nas elipses perfeitas que essa autora nos impõe a cada fim e início de capítulo. 

Para ouvir:  http://bit.ly/13qh05t


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