A inclemência do tempo é
condição inequívoca que rege a vida de qualquer um. Não há como fugir dos impactos
dele, sejam positivos ou negativos. Se a fase é ruim, o efeito psicológico é de
que o tempo se arrasta como se fosse uma força sádica que quisesse
prolongar nosso sofrer; quando a época é boa, a impressão que se tem é de que o
tempo está só de passagem e que, logo, em um instante breve, ele levará consigo
os tão bons ventos que o trouxeram. O tempo sabe ser o melhor remédio, mas a
agonia de querer que ele passe, é o pior
castigo.
Essa rasa reflexão basta para introduzir a
resenha do livro ‘A visita cruel do tempo’, de Jennifer Egan, que tem como
lastro o poder supremo que o tempo exerce sobre a vida do ser humano. Na
contramão dessa subordinação que a autora parece sentir com relação ao tempo,
ela o dilui dentro da narrativa, fazendo o leitor não se situar bem sobre qual o
momento das cinco décadas circunscritas dentro da estória está lendo.
Cada capítulo de ‘A visita cruel do tempo’ é
narrado por um personagem diferente, que, ora se dirige ao leitor em primeira
pessoa, ora em terceira. Todos os personagens carregam em si as agruras que o
tempo inevitavelmente provoca na vida dos indivíduos. Paralela aos sentimentos
subjetivos advindos com o passar dos anos, Egan também traz à tona a franca
decadência de carreiras de produtores musicais arrebatadas pelos novos rumos
que esse nicho de mercado veio ganhando devido à evolução dos meios digitais.
Nessa toada, a autora consegue
um movimento de constante alocação da atenção do leitor, que transita do
universo particular dos personagens e seus dramas psicológicos para o contexto mais geral que abarcam essas situações.
Vencedora do Pulitzer de 2011, Egan, com sua
narrativa randômica, conseguiu expor em livro um daqueles roteiros fílmicos
de estórias paralelas; assim como David Cronenberg perfeitamente
imprimiu em Crash (1996) e Alejandro González fez incrivelmente em Babel (2006)
– para citar apenas dois dos muitos exemplos dessa estrutura narrativa.
Vale a pena ler e se perder
nas elipses perfeitas que essa autora nos impõe a cada fim e início de capítulo.
Para ouvir: http://bit.ly/13qh05t
bahh... dá vontade de ler!!
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